Como você trata a si mesmo diante de falhas? Como reage ao não atingir aquilo que idealizou para si mesmo? Quais pensamentos lhe ocorrem quando não alcança o que desejou em alguma área de sua vida?
É muito comum a tendência ao autoflagelo, a nos culparmos excessivamente quando algo não acaba como o planejado, o que só aumenta o sofrimento e a sensação de fracasso. Nesse sentido, a Psicologia tem explorado a temática da autocompaixão como um recurso psicoterapêutico a fim de desenvolver o bem-estar psicológico e melhorar a qualidade de vida.
O que é a autocompaixão?
Autocompaixão é a prática na qual aprendemos a ser um bom amigo para nós mesmos em substituição àquela voz interna cruel que mais se assemelha a um inimigo. Imagine, como você trataria um bom amigo passando por uma fase difícil? As palavras que você dirige a si mesmo nos momentos de autocrítica são as palavras que diria a ele?
A autocompaixão reduz essa voz autocrítica severa e nos faz entender que falhar é humano. Reconhecer os próprios erros é importante, mas a autoculpa excessiva não é saudável e não muda os erros passados. Buscar se acolher e encarar as dificuldades como um aprendizado, por outro lado, pode ser um caminho para lidar com as dificuldades de maneira mais saudável e para viver melhor.
A autocompaixão envolve três conceitos importantes:
1. Autobondade (gentileza consigo mesmo): esse conceito se refere a ser gentil e amoroso com nós mesmos, especialmente diante de nossas falhas e dificuldades, quando devemos agir de forma autoencorajadora e autoapoiadora ao invés de atacarmos a nós mesmos.
2.Humanidade compartilhada (consciência da própria humanidade): esse componente envolve uma compreensão genuína de que algum grau de sofrimento e dificuldade é inerente à condição humana. Ao ampliarmos a consciência de nossa própria humanidade, passamos a compreender que todos cometemos erros e passamos por dificuldades e que faz parte da existência humana ser imperfeito e precisar se desenvolver em alguns aspectos.
3.Mindfulness (consciência com atenção plena): diz respeito a estar presente no aqui e agora, reconhecendo os próprios estados emocionais e respondendo a eles com amor e gentileza. O reconhecimento do sofrimento é o primeiro passo para o enfrentamento. O segundo é aceitar quem somos, com nossas qualidades e pontos de melhoria, lidando com as próprias falhas de forma mais natural e positiva.
Tanto a autocrítica quanto a autocompaixão envolvem aspectos fisiológicos que influenciam a liberação de hormônios no organismo. Quando criticamos a nós mesmos estamos acessando o sistema fisiológico de ameaça-defesa de nosso cérebro. Esse mecanismo é responsável pela ativação de respostas rápidas a situações de ameaça, em que respostas de luta, fuga ou congelamento são acionadas a partir da liberação de cortisol e adrenalina. Quando a autocrítica exacerbada entra em cena, somos ao mesmo tempo a ameaça e o atacante. De forma inconsciente, nosso cérebro nos enxerga como perigo e dispara o sistema de defesa, causando estresse ao organismo, o que, de forma crônica, pode levar ao desenvolvimento de outros problemas emocionais, tais como depressão e transtornos ansiosos.
Por outro lado, quando agimos com autocompaixão, hormônios de cuidado são liberados, o que auxilia a reduzir o estresse e aumentar os sentimentos de segurança e proteção.
Benefícios da autocompaixão:
· Melhora estados emocionais negativos, tais como ansiedade, depressão, raiva e estresse;
· Eleva a autoestima e a autoconfiança;
· Desenvolve a capacidade de resiliência e de regulação das emoções;
· Promove maior satisfação com a vida e melhora a qualidade de vida;
No vídeo a seguir, Kristin Neff, referência na pesquisa na área de autocompaixão, esclarece explica as características essenciais da autocompaixão: https://www.youtube.com/watch?v=X1avsS9rCkI
“Um dos melhores guias para amar a si mesmo é dar a nós mesmos o amor que muitas vezes sonhamos receber dos outros.” — Bell Hooks
Portanto, busque reconhecer e aceitar aquilo que você sente, tratando-se com respeito e gentileza. Cuidado com os pensamentos e crenças negativas que você possui a respeito de si mesmo. Eles podem estar errados e não corresponder fielmente à realidade.
Se encontrar dificuldades para desenvolver a autocompaixão, busque auxílio de um psicólogo.
A Seção de Atenção à Saúde da JFSP está à disposição para oferecer acolhimento, informações, orientações e encaminhamentos nos seguintes canais:
E-mails:ADMSP-DISA-PSICOLOGIA@trf3.jus.br e ADMSP-SUSD@trf3.jus.br
WhatsApp Business: (11) 2172-6506
Horário de Atendimento: das 13h às 19h em dias úteis
Fontes:
LEAHY, R. L.; TIRCH, D.; NAPOLITANO, L. A. (2013). Regulação Emocional em Psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed.
NEFF, K. ; GERMER, C. (2019). Manual de mindfulness e autocompaixão: um guia para construir forças internas e prosperar na arte de ser seu melhor amigo. Porto Alegre: Artmed.
NONNENMACHER, C. A. D.; PUREZA, J. R. (2019). As relações entre a autocompaixão, a ansiedade social e a segurança social. Contextos Clínic, 12 (3).
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