Na sexta-feira (24/8), a Seção Judiciária de São Paulo, com apoio da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e da Associação dos Juízes Federais de São Paulo e Mato Grosso do Sul (Ajufesp), promoveu no auditório do Fórum Ministro Pedro Lessa, uma sessão de cinema com o documentário Chega de Fiu Fiu. Após a exibição do filme os espectadores participaram de um debate com uma das diretoras do longa-metragem, Amanda Kamanchek Lemos.
Lançado em maio de 2018, o filme mostra o dia a dia de três mulheres com vidas distintas, retratando como a violência de gênero é constantemente praticada nos espaços públicos urbanos. O documentário faz parte da campanha Chega de Fiu Fiu, criada em 2013 pela ONG Think Olga, para combater o assédio, sob a ótica de que ninguém deveria ter medo de caminhar pelas ruas simplesmente por ser mulher.
Amanda Kamanchek Lemos comentou que, após o lançamento do filme, recebeu feedbacks de mulheres de 30 e 40 anos que começaram a entender o que é assédio. “Mulheres que nunca tinham refletido sobre o assunto e que perceberam o que é assédio, ou que felizmente entenderam com o filme como ele acontece. Temos recebido histórias de transformação pessoal e profissional, e isso é muito importante. Uma vez que você entende o problema, você consegue atuar sobre ele, dizer não e entender o que é consenso”, afirmou a diretora.
“Quando a gente traz um filme que fala sobre o assédio e tem o título Chega de Fiu Fiu estamos mostrando que alguma coisa ainda está errada, algo ainda está desigual entre homens e mulheres. Precisamos pensar nessa questão de gênero, não podemos naturalizar pequenos gestos que, no fim, têm um efeito muito negativo para todo mundo”, declarou a desembargadora federal do TRF3, Inês Virgínia Prado Soares.
Uma pesquisa realizada pelo instituto YouGov e divulgada pela ActionAid, em 2016, mostrou que 86% das mulheres brasileiras ouvidas já sofreram assédio em público em suas cidades.
“É muito importante o protagonismo que a Justiça Federal de São Paulo assume por inciativa própria ao trazer a discussão do assédio, que é uma experiência vivida de maneira muito solitária. Mostrar como isso é um problema de dimensões coletivas, por si só já tem um efeito muito grande para as mulheres se sentirem fortalecidas”, declarou a juíza federal Gabriela Azevedo Campos Sales, vice-coordenadora da Comissão Ajufe Mulheres.
A Seção Judiciária de São Paulo vem tratando do assunto com o propósito de orientar e conscientizar homens e mulheres sobre como lidar com o problema. “Os homens têm que ser aliados, por que na sua grande maioria são eles os autores desse tipo de violência”, afirmou Amanda.
“O filme traz uma reflexão profunda da necessidade das mulheres se empoderarem em ações que venham a enfrentar esses assédios, que são rotineiros. De um outro lado, o filme também traz um convite em relação à postura dos homens para essas questões. É muito importante que tenhamos a ideia de igualdade entre homens e mulheres, para estabelecer uma nova forma de pensar, de considerar as atitudes do dia a dia e olhar para o próximo não por que é homem ou mulher, mas por que é um ser humano”, destacou a juíza federal e diretora do Foro, Luciana Ortiz Zanoni.
Em sequência ao debate, um grupo participou de uma oficina no laboratório de inovação da Justiça Federal de São Paulo - iJuspLab. Divididos em três equipes, o participantes elaboraram sugestões para tratar o problema.
Fotos: Kátia Serafim